14.9.09

A Carta

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Não tenho nada para fazer hoje. Não tenho nenhum livro para ler, nenhuma música para ouvir. Apetecia-me escrever uma carta a alguém. Alguém que vivesse do outro lado do mar. Alguém que já se tivesse esquecido de mim há muito, e que ao receber a carta parasse num leve sorriso de surpresa. O envelope com a minha caligrafia e a carta lá dentro. – De quem é? – Nada, não; uma carta de um primo meu de Portugal.

[...]
Já escrevi cartas de todas as maneiras, até sobre o carregador de uma arma, só pela urgência de dar a saber que estava vivo. É muito diferente escrever de casa para alguém que está longe, não sabemos bem onde, e escrever de longe, de onde não sabem de nós. Onde nós também não sabemos bem de nós. A mata misteriosa a separar-nos de tudo o que nos é familiar, e o apelo para comunicar com quem nos tem no pensamento. A vontade de responder a perguntas que não ouvimos, mas que sabemos terem-nos sido formuladas. Perguntas de que nos chega o significado mais profundo, mas não as palavras que o transportam. E o apelo para responder, justamente as palavras, as palavras que faltam, porque o significado é sobejamente conhecido. Depois o prazer de desenhar as palavras no papel. O conforto das palavras escritas, físicas, quase tangíveis, a darem densidade à imaterialidade dos sentimentos.
Mas agora, nesta noite em que o computador me avisa que recebi mais um e-mail ou alguém me chama no Messenger, queria sentar-me na pequena mesa tosca e acanhada de onde via os fogos-fátuos no cemitério de Aguim num fim de tarde de verão, e escrever uma carta para uma pessoa que mal me conhecesse, e que ficasse surpresa por eu ter mandado notícias, não por mim, não por ela, não pelo que dissesse; apenas porque isso implicaria uma certa dedicação, uma certa humanidade numa cadeia de esforços de várias pessoas para que a carta chegasse ao destino.
O cabo de dia a ler em voz alta o nome de um soldado, e um braço alegre a pegar no aerograma. Os olhos sem conseguirem ler devido à ansiedade. As palavras escritas por todo o papel amarelo do aerograma e depois a apertarem para o fim, para caberem mais, e nas margens também, porque as despedidas são sempre difíceis, mesmo quando são feitas de tinta sobre papel. Agora os olhos sem conseguirem ler devido às lágrimas desfocarem tudo. Aquelas palavras sempre tão iguais, sempre tão previsíveis, mas a despertarem sempre a emoção da surpresa.
Outro e-mail a chegar. Um contacto a chamar-me no Messenger. Este falso dom de ubiquidade que temos ao contactar em simultâneo para vários lugares do mundo. Todos em contacto com todos, para todo o lado, a toda a hora, sem aparente intermediação.
O cabo de dia a ler para si o nome do soldado Lourenço. Um soluço a calar a voz. Boas notícias e nenhum braço alegre. Os soldados calados a guardarem luto. O cabo de dia passa para baixo o aerograma que era para o Lourenço e continua a chamar os soldados um a um.
A pior coisa que se pode escrever é uma carta para um soldado já morto. Quando o aerograma chegar devolvido por não ter encontrado o soldado Lourenço haverá alguém como o Sr. Luís da Loja que fará soar uma corneta? Alguém como o médico de família da saudade a dizer: "Uma carta do seu filho"?
[...]

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24.8.09

Carta a Mueda - Silvestre

Texto de António Silvestre

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[...]
Já sonhei contigo mil vezes, Mueda, já contei tantas histórias sobre ti e ainda tenho tantas para contar. Como eu, centenas, milhares de homens têm saudades de ti, contam histórias e sonham contigo. Sonham com o teu cacimbo de madrugada, com as colunas a sair para a picada ainda noite escura, com as tuas manhãs enevoadas. Acordam de noite, ouvindo as saídas dos morteiros, o ruído dos helicópteros ou o rebentar de uma mina.
Que fascínio tinhas tu Mueda, que mistérios encerravas, para que homens que aí enfrentaram a morte, ainda hoje, passados tantos anos, falem de ti com tanta saudade, com tanto entusiasmo, com tanto carinho.
Tuas histórias são contadas à lareira, nos cafés, nas tabernas das aldeias, nos restaurantes mais finos das grandes cidades, todos os dias és falada por tantos homens que por lá passaram e nunca mais te esqueceram, o teu céu, as tuas estrelas, o teu amanhecer, os teus dias enormes, os teus ruídos, as tuas ruas esburacadas, as tuas amizades com um copo ao lado, tudo isso está guardado na nossa memória como um tesouro, que de vez em quando visitamos para matar saudades. Saudades enormes Mueda, da chegada do correio, do içar da bandeira, duma visita ao aldeamento, dum salto até ao AM para ver chegar os aviões ou simplesmente de uma conversa noite dentro com os amigos, sem sabermos se seria a última.
[...]


Texto de António Silvestre

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21.7.09

A Enfermeira que Vinha do Céu

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Se o comboio avança em direcção à Gare do Oriente porque me dá a ideia que recuo no tempo? Daqui a pouco uma mulher por entre a multidão avançará para mim empunhando a boina verde de uma farda há muito desmobilizada, distintivo, noutro tempo, de uma tropa de elite, identificação hoje para um encontro agendado.
[...]

Quem nos vir daqui a pouco, frente a frente, eu e a enfermeira pára-quedista à mesa de um restaurante, jamais imaginará que o que nos separa não será o tampo da mesa, serão 37 anos de vida e uma guerra. A mesma guerra que fez com que as trajectórias das nossas duas vidas se encontrassem.
Há, evidentemente, alguns factores que reduzem o grau de imprevisibilidade desse nosso primeiro encontro; mas neste momento, quando o comboio já está quase parado na plataforma de embarque da Gare do Oriente, só consigo pensar que foram precisos largos séculos de história colonial e duas trajectórias erráticas, como erráticas são sempre as trajectórias dos seres humanos, para nos encontrarmos no preciso lugar onde uma mina anti-pessoal terrestre aguardava há alguns dias pela minha bota esquerda. E isso é algo que transcende o meu poder de cálculo de probabilidades.
E onde aconteceu tudo isso? Numa picada perdida do norte de Moçambique ou num lugar recôndito da minha imaginação?
Eu com frio e o sorriso cálido da enfermeira. Eu na solidão absoluta perante a Morte e um sorriso que me garantia mais do que a certeza de que o Universo era habitado. A certeza que, mesmo quando tudo parece ter descido ao mais baixo patamar da humanidade, a esperança pode ser-nos trazida por um cândido sorriso de mulher.
E o Alfa parou.
Não sei em que ano parou. Não sei em que mundo.
Vou sair por aquela porta para a plataforma de embarque com a convicção de que a realidade não me será suficiente. Mas a realidade nunca é suficiente: é para isso que há sonho, música e poesia.
[...]


A Grande Prostituta pairava sempre sobre nós, e quando tombávamos ajoelhava-se para nos invaginar. Às vezes o enfermeiro Costa tentando a ternura: - Não me morras filho da puta! E quando a vida não era mais do que um fio, ansiávamos que a salvação viesse do céu.
E vinha!
Vinha de T-shirt branca e levava com ela os nossos camaradas feridos, e durante uns breves minutos o terror dava lugar a uma leve sensação de doçura.
E era então que me apetecia chorar; que um homem até aguenta a dor e o medo da morte mas não resiste à generosidade de uma mulher.
Levou o Lemos, levou o Raimundo, levou-me a mim. E um dia, quando parecia que tudo o que passei na guerra se tinha desvanecido para sempre, dei por mim a desenhá-la com palavras, como personagem de um livro. Com palavras que trouxe a vida inteira comigo.
Hoje a mulher por detrás da personagem ocupará o seu lugar aferindo a ficção pela realidade, deixará de ser uma silhueta desvanecida de uma foto antiga no heliporto de Mueda, a personagem construída a partir da fantasia literária e das memórias difusas de um velho soldado, a personagem que um leitor do livro levou a sério e procurou no labirinto do mundo até a encontrar.
Sairá hoje das páginas do livro para falar com o autor.
E o Alfa parou.
- Olá Piedade!
- Olá Manuel!

15.7.09

Como se compram os livros?

- Compram-se como todas as coisas.

Um livro é um bem de consumo, e quem compra livros passa pelo mesmo processo que qualquer outro consumidor, seja o que for que compra.

Um vegetariano dificilmente comprará um Big Mac, o meu tio Artur jamais compraria uma Coca-cola, não apenas porque já morreu, mas sobretudo porque para ele a frase de Salazar sobre o consumo do vinho era mais do que um slogan, mas um verdadeiro credo, ao qual ele acrescentava um tom poético: Desgraçados portugueses, filhos de um país vinícola, se se haviam de embebedar todos os dias, ainda censuram aqueles que cumprem patrioticamente o seu dever.

Bem… com um livro passa-se o mesmo. Quando um leitor passa pelas estantes de uma destas enormes catedrais de vendas que livro escolhe? Um enólogo comprará um livro sobre refrigerantes? O padre Melícias comprará o último livro de Catherine Millet? Não digo que não, poderão querer aferir o nível zero das suas preferências, ou, o que é muito mais interessante, talvez queiram dar uma espreitadela pelo buraco da fechadura da porta do inferno.

Se eu passasse num desses espaços não me sentiria atraído pelo título do livro de José Vale Ovelha "As Razões de Salazar", sobretudo porque o texto que o acompanha me remete para uma dieta alimentar que me anuncia más digestões; não que eu seja vegetariano, e me assuste com a trash-food da receita luso-colonialista, e das suas razões, sejam elas quais forem, ou se me contraiam os esfíncteres que nem um pároco sem a menor sombra de malícia perante o despudor pecaminoso de uma erecção serôdia do salazarismo, para não dizer de um rigor mortis.

Mas… podemos comprar um livro só para ver como nos explicam a quadratura do círculo ou desmentem o teorema de Pitágoras. A verdade é esta, pelo menos para mim: o exercício da escrita é como o sexo, o prazer do acto é que justifica o esforço. É por isso que vou comprar o livro que um amigo e seu autor me pede que aqui anuncie.

Uma boa leitura.



3.6.09

100 Versos do Mato

Órfão

Que faço
nos intestinos da selva
sem uma causa
que me proteja do medo
Eu não sou daqui
sou de uma terra
onde as árvores gostam de mim
e os meus inimigos me conhecem.


Porta dos fundos

Coitados dos ditadores
para parecerem deuses
fazem das soluções fáceis
difíceis problemas
Encolhem a dignidade humana
para parecerem grandiosos
eles que têm medo do escuro
E aqui estamos nós
no fundo das escadas
do Império moribundo
por lhes faltar a coragem
para fecharem a porta
e apagarem a luz.


A constância da morte

Os sons da noite
são o eco
dos sons do dia
Tudo é inverso
neste espelho
em que a luz adormece
Só a Morte é igual
porque é sempre negra
no coração dos homens.


Ciúme

Uma asa de ave
corta a planura do lago
enquanto plácida a Lua sonha
Tu
meu amor a haver
és a dor no peito
de suspeitar que morrerei
sem ser feliz.


O coice da arma

Tenho uma palavra dentro de mim
a querer ser dita
Cada vez que dou um tiro
ela morde-me as tripas
Que palavra será esta
entre o meu dedo
e a Morte.


Mueda de troca

Matei-te
Com a desculpa
de que me querias matar
Que ganhei eu
Se fui assassino no teu lugar.


A rosa da morte

A Grande Prostituta
ama-nos como a fome ama o fruto
Quer invaginar-nos a cada passo
E nós caminhamos sobre a alma
sentindo o coração nos pés
Quando tombamos
ajoelha ao nosso lado
O enfermeiro tentando a ternura
Não me morras filho da puta
Mas nada pára a rosa
no peito do radiotelegrafista
A desfolhar-se
a desfolhar-se
Há pouco alguém puxou um gatilho
E ele ficou parado no meio da picada
como uma torre de igreja
em que os sinos se calaram.


Pietá

Vem do céu
e pousa de helicóptero
com subtilezas de anjo
Ultrapassa a Morte
e leva-nos nos braços
Ama-nos sem saber
a enfermeira da T-shirt branca.


O semeador

O soldado lança a granada
como outrora o pão
Semeia dor
E alguém morre
onde aquele gesto macho
esteriliza em vez de fecundar.


O Cancioneiro do Niassa

Morremos tantas vezes em Mueda
Morremos sempre que uma voz se cala
por estarmos aqui
Às vezes até acordamos já mortos
Por isso à noite
os soldados bebem e cantam
para adormecerem vivos.


Inspiração divina

Uma borboleta pousou na minha arma
Como se Deus me tivesse escolhido
para dizer alguma coisa
Com a sua mania de falar por linhas tortas
não entendi nada
Logo depois a borboleta foi-se embora
cansada de ser uma metáfora.


Excelsis Deo

A guerra é a negação de Deus
Que obra imperfeita
faz perfeito o seu criador
Nós
ao menos
temos a desculpa da estupidez.

---
Mueda, 1972

100 Versos do Mato - 00

Reitero o desafio feito há dias a todos os visitantes deste blog que tenham tentado dizer a guerra em verso para que tenham coragem de mostrar as suas palavras.
Aqui deixo as minhas, as que sobreviveram depois de tantos anos, depois de tantas décadas. Palavras em arremedo de poesia. Um pouco mais e seriam música, um pouco menos e seriam preces.
100 versos. Tantas palavras e tão poucas, se comparadas com todas as palavras nunca ditas, essas outras palavras que morreram antes de serem escritas; palavras caladas, rejeitadas, dizendo o silêncio, o silêncio indecifrável da ausência das palavras.
Estas palavras, quase todas, nasceram apenas e pouco mais lhes aconteceu. Palavras simples, recém‑nascidas; palavras tentadas, esboçadas, inocentes; tentativas de palavras em busca da forma, guardadas assim à espera de crescerem, de ganharem sentido. Palavras casuais, soltas, inconscientes, gestuais; como folhas caídas ao acaso sobre a relva, encontradas e apanhadas apenas, sem outro intuito que salvá-las de serem para sempre esquecidas.100 versos, dos quais, todos os dias aqui virei trazer alguns.

2.6.09

Convite aos visitantes

Conferência do autor deste blog
na Biblioteca - Museu República e Resistência/Grandella
no dia 18 de Junho às 19h

Desolação

Estou cansado. Não sei de onde me vem este cansaço.
O largo da Capela está vazio. Fazem-me falta os velhos sentados no banco corrido à frente da loja do Sr. Boanerges. Eles, cansados também, fitando a fachada da capela da Nossa Senhora do Ó como se estivessem a ver um filme enquanto falavam entre si.
Ia a caminho de Águeda e deu-me para subir o Barreiro e ficar aqui um bocado. E aqui estou eu como se estivesse a ver um filme projectado na fachada da capela. Está mais nova a capela, mas o largo está vazio, e eu senti-me cansado de repente. Sinto-me como um marido arrependido, regressando a casa depois de um serão de orgias. Tudo parece olhar-me com uma falsa distracção, não me dando atenção para me fazer sentir insignificante.
Pode trazer-se a fisionomia de um rosto, as estrofes de um poema, os compassos de uma música dentro de nós; eu trago a torre de uma capela.
Sinto-a nitidamente, erecta sobre a colina de Aguim, sobreposta a um céu de cetim quase limpo.

Uma pessoa vem ainda longe e a sua silhueta já nos faz sentir em casa, como se sentirão os mareantes ao verem ao longe o farol da Barra.
Desculpa ter chegado tarde, desculpa ter-me distraído com as horas. Saí para tomar um copo e quando dei por ela tinham passado trinta e tal anos.
Eu sei, eu sei. Foi a aventura que me levou, a viagem, a pior das vertigens: a guerra. Saí daqui para ir matar e morri por lá… nunca mais voltei de verdade porque entretanto já era outro.
Já nem sei se sou daqui, mas ao passar lá em baixo algo me chamou, como que a meter conversa sem ter assunto, e eu a fazer pisca para a direita… e agora deu-me para falar sozinho como um bêbado abandonado por lhe terem fechado a porta de casa.
Trago uma torre comigo.
Sei a textura das pedras dos degraus em caracol. Sei o silêncio das pedras. A quietude das pedras. A temperatura das pedras. Testemunhas pacientes do Tempo. Eu a subi-las enquanto lá em baixo na nave da capela se rezava a missa. E eu a tentar ver o mar do patamar superior… Era bom, reconfortante, olhar o horizonte e saber que para lá do horizonte existia o mar, mesmo que não o visse dali; e ter essa certeza, como todas as outras certezas que eu tinha então, parece-me agora uma garantia de ter sido feliz.
Um dia fiz ali um pecado e não houve uma única daquelas pedras que me denunciasse; e Deus, não o que alguns homens criaram à sua imagem e semelhança, mas o impossível Pai que todos gostaríamos de ter, a rir-se cúmplice, enquanto no Largo da Capela as bandas tocavam ao desafio.
Mas hoje o Largo da Capela está vazio, vazio como quando eu saía do meu quarto para ir brincar no Sobreirinho e os meus amigos já tinham ido todos embora. Para onde foram todos? Porque não me chamaram? O Faria, o Zé, o Rolo; que amigos são estes que me deixaram a brincar sozinho?
Hoje o Largo da Capela e o Sobreirinho parecem uma parede vazia onde sempre esteve um quadro,
um escaparate sem um único livro, uma cómoda de gavetas abertas de onde levaram a roupa. Uma estação de caminho de ferro deserta, depois de ter partido o último comboio. E eu com o desalento que só um filho único conhece, quando os seus amigos foram embora sem o terem chamado.
Eu amo uma torre que me pede de longe que pare. Que não siga viagem, que suba o Barreiro e entre na minha casa mesmo que essa casa seja um templo de adoração a um deus em que não acredito.
Um farol que teima em dizer-me que eu sou daqui, que afinal os meus amigos estão todos à minha espera, que é apenas uma questão de tempo e logo nos sentaremos à mesma mesa com a desculpa de nos apetecer beber uns copos por causa do inocente pudor masculino de assumirmos os afectos.
Se fosse possível, quando for a minha vez de me juntar a eles, gostaria que me rezassem ali uma missa de corpo presente, mesmo que o meu corpo esteja noutro lado qualquer, que pedissem por mim a Deus mesmo sabendo toda a gente que eu fora ateu, ou, se não fosse pedir muito, que se reunissem ali cantando. Só para eu consumar este amor antigo.
E por favor… que alguém se esgueire pelas escadas da torre e vá praticar o seu primeiro pecado enquanto na nave os meus amigos que ainda fiquem por cá se despeçam de mim.

26.5.09

O MEU PAI

Texto de José Caseiro

Ano de1972, Janeiro. O Natal tinha ficado para trás, a passagem para o novo Ano também. Natal triste, com a minha mãe a chorar constantemente, as minhas irmãs a não conterem as lágrimas, o meu pai em silêncio e eu sem saber o que fazer ao bacalhau.
Eu ia para a guerra em África. E o meu pai em silêncio. Habituado a sofrer em silêncio.
Emigrante no Brasil desde muito novo, homem do mar, tantas vezes largado sozinho num bote desde o nascer do dia até ao anoitecer, à mercê das inclemências do clima, a sós com os seus pensamentos, com as saudades da família. Sofrendo sempre em silêncio.
Foi no dia 5 de Janeiro, dia do meu aniversário pelo registo. O dia do meu nascimento foi a 29 de Dezembro, mas o meu Pai registou-me nessa data, para eu ir para a tropa dos 20 para os 21 anos. "Assim irias mais homem", dizia-me ele. Embora a diferença de tempo fosse apenas de uma semana.
Madrugada fresca, rua vazia e triste como o coração do meu pai, porque estava a assistir à partida para o Ultramar de um dos seus meninos que ajudou a crescer e agora estava um homem feito para a tropa e para a guerra, como diziam aqueles que viviam bem á custa dos milicianos e dos soldados, que quando embarcávamos até pensávamos que era para defender o nome de Portugal, mas infelizmente era para defender os seus interesses.
Paragem do autocarro ali abandonada à espera de passageiros para o 76 com destino à Avenida dos Aliados. Autocarro verde de dois andares. Fomos os únicos a entrar naquela paragem tão abandonada e tão gelada como os nossos corações. E o meu pai a sofrer em silêncio. Habituado a sofrer em silêncio desde muito novo.Habituado a chorar para dentro. Em vez de sangue corriam-lhe lágrimas nas veias, já que no rosto nunca lhas vi.
Malas carregadas de esperança de regressar são e salvo transportadas por mim e por meu pai até á estação de São Bento, para depois ir no comboio com destino a Viana do Castelo, cidade onde se encontrava o batalhão 3876 que iria embarcar para Moçambique no dia 9 de Janeiro de 1972.
- Hora da despedida. Pai, tenho que ir. Um forte abraço e adeus meu pai.
Só aqui ele quebrou o silêncio: - Deus te proteja e tem cuidado contigo.
Será que este homem, com todo o seu sofrimento em silêncio, foi atendido por Deus quando quebrou esse silêncio para lhe pedir por mim? Penso que sim! Porque os dedos das duas mãos são suficientes para contarem os operacionais da CART 3503 que não foram feridos na guerra em Moçambique, e eu sou um deles. Onde os senhores da guerra não tiveram em conta o número de feridos e mortos que a nossa companhia teve no princípio da comissão, tanto, que em qualquer lado a CART 3503 era reconhecida por todos como a companhia mais sacrificada pela actividade operacional e das que melhores resultados tinha conseguido em Cabo Delgado.
Já dentro do comboio, quando este começou a andar e quando pela janela lhe fiz o sinal de adeus, aquele homem mais uma vez ficou em silêncio a sofrer.
Provavelmente, quem andava naquela hora na estação de são Bento, não se apercebeu que ali estava um homem sofrendo em silêncio pela partida do seu filho para guerra do Ultramar. Esse homem era o meu pai.
Ano de 1988. O meu pai adoeceu gravemente e teve que ser internado no hospital de São João, no Porto, para ser operado. Domingo, véspera da operação. Fui visitá-lo pela manhã. Estava sozinho. Encontrei-o a vir da capela do hospital, e como sempre em silêncio. A sofrer em silêncio como era seu hábito. Muitas palavras de carinho e amor lhe transmiti, e em silêncio me respondeu. Na hora da despedida dei-lhe um forte abraço e disse-lhe: - Pai, até à próxima e que tudo corra bem.
O meu pai morreu no dia seguinte, na sala de operações.
Hoje ainda pergunto a mim mesmo: será que eu na despedida ao meu pai, em vez de lhe ter dito "até á próxima" lhe deveria ter dito "Adeus meu pai e que Deus o proteja"? Quem sabe Deus me tivesse ouvido e o meu pai não tivesse morrido naquele dia, naquela operação.
Ou então, talvez Deus tivesse decidido que naquele dia, naquela sala de operações, aquele homem que em silêncio tinha por hábito sofrer, deveria ficar definitivamente em silêncio, mas em paz.
Aquele homem era o meu pai. E em silêncio ficou para sempre.

(c) José Caseiro

15.5.09

POESIA DA GUERRA COLONIAL

- UMA ONTOLOGIA DO "EU" ESTILHAÇADO -

Manda os teus poemas para os contactos indicados no fim deste artigo ou para este blog.

A experiência de Portugal na guerra colonial (1961-74) teve o seu registo estético na narrativa, dando origem a mais de uma centena de romances sobre o tema e na poesia com uma vasta e ainda não delimitada produção. Esta poesia, de autores directa e indirectamente envolvidos na guerra, e elaborada, ou no momento da vivência do evento bélico, ou em seguida, enquanto espaço de memória e de elaboração pós-traumática, carece de atenção, reflexão e divulgação.

Este projecto visa realizar uma primeira e exaustiva recolha crítica do material poético acessível, não só enquanto poesia de guerra no panorama literário ocidental e português em particular, mas também enquanto valioso testemunho subjectivo de um episódio marcante do século XX português, que modificou a própria identidade histórica de Portugal. O projecto propõe-se reunir um banco de dados amplo do arquivo poético da memória da guerra colonial e combiná-lo com uma organização de uma antologia de poemas de guerra. Trata-se de um projecto aberto à colaboração.

Este projecto compreende três fases que se desenvolvem em paralelo: a pesquisa na web, a recolha de poemas em arquivos e bibliotecas pelo país e a publicação de uma antologia.
O projecto propõe-se ainda construir um arquivo on-line da poesia da Guerra Colonial, o qual estará permanentemente activo e aberto à colaboração, e será gerido pela equipa de investigação.

Contactos
CES – Centro de Estudos Sociais
Universidade de Coimbra
Colégio S. Jerónimo
Apartado 3087
3001-401 Coimbra

Tel.: +351 239855570

Fax: +351 239855589

E-mail: cristinanery@ces.uc.pt

http://www.ces.uc.pt/projectos/poesiadaguerracolonial/pages/intro.php

http://www.ces.uc.pt/

28.4.09

A Estrada

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[...]

A vida é uma estrada como esta, parada entre o vale e a montanha e nós é que vamos caminhando de curva em curva até nos consumirmos e ficarmos assim a olhar para a última curva lá atrás, como se pudéssemos viajar no próprio olhar para o passado.
Há quanto tempo ela o fizera seu, ali naquela mata? Há uma eternidade. Há quanto tempo, algum tempo depois, o vira partir de farda verde sujo e mochila às costas para uma guerra que ela nem sabia que existia? Ontem? Porque será que as coisas más que recorda lhe parecem próximas, e as boas distantes?
Nenhum homem sabe a guerra que uma mulher trava sozinha sem armas nem defesas, enquanto os homens, que nunca deixam totalmente de ser crianças, se entregam estupidamente à mais infantil e cruel das brincadeiras, que é a de se tentarem matar uns aos outros por motivos que julgam elevados e por objectivos que consideram honrosos.

O pior que acontece com os nossos sentimentos é não sabermos se devemos amar ou odiar. O pior ainda, é quando sentimos o amor e o ódio pela mesma pessoa. Jamais o amor se lhe apagaria da alma por aquele que um dia ali se atirou a ela como predador e acabou prostrado no seu corpo como presa. Jamais o ódio, por ter sido duas vezes traída por ele, se desvaneceu. Uma primeira vez, na distante tarde de Outono em que se foi afastando por aquela estrada até ter desaparecido naquela mesma curva ao fundo, com aquele ar de guerreiro garboso que parte à aventura pelo mundo fora e a deixava a ela ali, como uma sombra no meio da estrada, como uma peça de roupa de todos os dias que se despe para envergar a sinistra roupagem de matar, aquela farda da hedionda cor do esterco. Agora, olhando a mesma curva da estrada lá longe, parece que nunca saiu daqui onde está, durante estes anos todos, como um envelhecido Narciso a mirar a ilusão de uma juventude irremediavelmente perdida. Mas a pior traição foi a segunda, a traição de ter-se ele deixado morrer por lá.
[...]

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9.3.09

O Voo da Calhandra

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[...]
O Tempo não é apenas o que tudo domina, o Tempo é o verdadeiro protagonista de todas as histórias. Mesmo uma fotografia tem tempo, não o que levamos a olhá-la, mas o que a separa do nosso olhar. Num momento algures no tempo, uma árvore foi observada, ou um rosto, ou um sorriso, ou uma cotovia levantando voo sobre um vinhedo. O olhar de um pintor prende esse momento numa tela, o olhar de um fotógrafo congela essa efemeridade num instantâneo, na vã ilusão de lhe conferirem perenidade. Noutro momento o nosso olhar cai sobre essa imagem, e cria-se uma nova realidade, mas é no intervalo entre os dois olhares que a história acontece. É esse intervalo que me fascina: a fermentação do mosto em vinho, a sublimação da paixão em amor, a transcrição do evento em História. Os factos têm apenas um interesse meramente nutritivo porque são exteriores à mente humana; o Tempo, e dentro do Tempo a imaginação, são a realidade possível, porque nos dão a ilusão de vivermos a vida. Na verdade, são a vida dentro de nós.

Não sei já onde soa o violino, se na vastidão dos vinhedos se dentro de mim, onde há-de ficar para sempre, até que, caldeado pelo tempo, me seja devolvido como uma memória, despoletada não sei por que efémera realidade.

O Vale d'Aveia descendo até Vale de Cide numa vertigem de voo planado. O Vale d'Aveia subindo até à forma erógena do Buçaco. A tarde de Outono cheia de preguiça. O sol oblíquo a desenhar longas sombras sobre o vale e a pintar tudo de cobre e ouro. A alegria da ave. A melancolia do violino. Uma e outra, dentro de mim para sempre. Uma e outra como se as tivesse testemunhado ontem. O virtuosismo do Sr. Manuel da Leonarda ensinando uma cotovia a voar. Uma cotovia levantando voo para dar título à música. Há sem dúvida mundos maiores que a mera realidade.

[...]

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16.2.09

Cacimbo encenado

MUSCARIUM - Leituras encenadas a partir de 22 de Fevereiro, às 18:30 pelo Teatromosca na Casa da Cultura de Mira Cintra

"Dor Fantasma" do autor deste blog a levar à cena em 27 de Dezembro, às 18:30

9.2.09

Como eu me enganei

Texto de José Caseiro
[...]
A recruta foi feita, deram-me a categoria profissional de atirador de infantaria, e fui destacado para Tavira, para o velhinho quartel da Atalaia CISMI; aí reparei que além de outros rapazes da minha idade, havia um que estava a fazer justamente o mesmo percurso que eu, era o Camões, isso veio a confirmar-se porque dali fomos para Aveiro dar recruta, embora ele tenha ficado cá em cima no R.I.10 e eu lá para baixo para o 5 onde não havia chicalhada, e por isso mesmo, andávamos mais á vontade.
Foi ali, numa tarde de um belo dia de sol que tive conhecimento que estava mobilizado para o ultramar, para província de Moçambique. Um dia de sol que nesse momento ficou negro, mais negro que o negro do luto.
E foi nesse instante também que pensei: - Bem, deve ser melhor que ir para Angola ou Guiné, porque não se fala tanto. Mal eu sabia o que me esperava.
Após a instrução, e com a ordem do dia cá fora, fui procurar os outros companheiros para saber qual a situação deles, que não era melhor que a minha, pois estávamos todos mobilizados para as províncias ultramarinas. E mais uma vez o Camões iria fazer o mesmo percurso que eu pois íamos apresentar-nos no mesmo quartel em Penafiel, com destino a Moçambique, pertencendo ao mesmo batalhão, embora não à mesma companhia.

Mais tarde fomos para Viana do Castelo, ou seja para o velhinho quartel da Barra, e foi o que se passou aí que deu origem a esta minha recordação e a este texto.

[...]

(c) José Caseiro

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23.1.09

A Doença da Memória

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O farol da Barra, agora, já noite, parece querer desenhar uma circunferência de luz em redor de si mesmo, mas o foco perde-se na noite infinita. A verdade é que tudo sem excepção se perderá na noite infinita; é uma questão de tempo. Caminhamos todos em direcção à escuridão, à escuridão sideral ou à simples escuridão do corpo, a qual é cada vez mais difícil de iluminar de prazer. Como um mar nocturno. À excepção talvez, de algumas praias de ternura, alheias, inocentes, às escarpas cruéis da nossa memória. Como seria bom, ao menos, o riso senil do esquecimento tão próximo da inocência que nos permitisse aceitar a decadência sem luta. Uma tarde soalheira debaixo da sombra maternal de um castanheiro sem idade e ao longe a família feliz no caleidoscópio do sol. Talvez então, sem remorso nem raiva aceitássemos a doce prepotência divina, como uma mentira piedosa.

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21.12.08

Os Sapatos do Major

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Há um ditado italiano que diz que não há maior felicidade do que termos companhia no infortúnio; se isso é verdade, devo ter sido muito feliz no Hospital de Lourenço Marques, pois não conheço outro lugar no mundo com tanto perneta para me fazer companhia.
Aos domingos uma parte da população vinha visitar os militares feridos em combate, e procurava saber coisas do Norte; era a parte da população que tinha consciência de que algo estava prestes a mudar. Conheci uma outra parte da população: a que achava que a guerra era uma coisa que se passava no distante Cabo Delgado entre a malta de Lisboa e os pretos; nada que uma matança a sério, e depois um apartheid à portuguesa não resolvesse. E depois… E depois havia as senhoras do Movimento Nacional Feminino. Havia qualquer coisa de patético nas senhoras do Movimento Nacional Feminino; qualquer coisa com sabor àquela doce degradação, só detectável no olhar de paciente mortificação das prostitutas dos bares de má fama da periferia das grandes cidades. Olhavam-nos com a distraída simpatia de quem tem por profissão distribuir calor humano em doses calculadas.
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25.11.08

A Difícil Transferência do Ódio

Sessão de apresentação de "Cacimbados" na Junta de freguesia de Aguim no dia 7 de Dezembro, pelas 16 horas


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Éramos umas crianças. – Disse José da Fonte.
Os soldados são sempre crianças, Bastos, ainda se ao menos os que nos comandavam fossem homens, mas eram crianças como nós. E os que eram homens não iam para o mato. Lá em Mueda conheceste alguém do quadro, que alinhasse nas operações de canhota nas mãos? Profissionais da guerra que nunca deram um tiro e os que foram para lá ao engano é que lhes guardavam o coiro! – Disse José da Fonte.
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18.11.08

CACIMBADOS - Sessão de apresentação em Coimbra

Já à venda na FNAC online


Foto de Liliana Bastos


Foto de José D´Abranches Leitão


Fotos de Inês Bastos


Foto de Ana Rita Valadares


Foto de Liliana Bastos

19.10.08

EM BREVE NAS LIVRARIAS

Adquira este livro numa FNAC ou numa Bertrand perto de si, ou em breve neste blog.



Lançamento do livro CACIMBADOS

dia 15 /11 / 08 das 16:00 às 18:00
Na Casa Municipal da Cultura
R. Pedro Monteiro em COIMBRA

Honrar-me-á a tua presença.

Ao mesmo tempo o blog Cacimbo completará 5 anos de
existência, o que faz dele provavelmente o mais antigo blog
dedicado à Guerra Colonial

15.10.08

O Dia em que Comandei a Companhia

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Durante anos e anos, tenho revivido a imagem do enfermeiro Costa a tentar socorrer o Raimundo e depois a ir em busca do Lemos partido em dois no meio da picada, e por vezes tento imaginar o que seria ver essa imagem na televisão à hora do jantar, ou no café, no meio das risadas dos amigos, e acabei por perceber porque tantos de nós optam pelo silêncio. É por pudor que o fazem. Por não serem capazes de expor em público uma memória do foro íntimo. Seria como subir a um coreto para chorar um desgosto profundo. É algo demasiado valioso para ser tratado como um entretenimento passageiro, como um fruto que se sorve rapidamente cuspindo o caroço para o chão.
Os consumidores de emoções rápidas aprendem a não penetrar na essência das coisas; entendem das coisas apenas o que o olhar apreende; fazem com toda a informação o que fazem com a comida, mastigada à pressa entre duas tarefas urgentes e inadiáveis, dado que toda a fast-food é apenas para defecar. Não poderão entender as emoções envolvidas numa frase assim, aparentemente banal, "Vai socorrer o Lemos", dita entre a vida e a morte, entre a coragem e o medo, entre o instinto primário de sobrevivência e o altruísmo, entre o cumprimento do dever e o sentido crítico. Não poderão entender que um acto que envolva risco para quem o pratica só merece ser considerado corajoso se não for gratuito ou exibicionista, e se for consciente; isto é, é preciso sentir medo para se ser corajoso.
O Raimundo ia a comandar a companhia, foi ferido, recebeu o socorro corajoso do enfermeiro Costa, e fez ele próprio a triagem da emergência médica, secundarizando-se, ficando na berma da picada, escorrendo sangue do rosto, ainda sem saber se não ficaria cego. – Vai procurar o Lemos, Costa. Vai socorrer o Lemos.
Eu era agora o mais graduado da companhia. E era preciso continuar, era preciso estar à altura do cargo que recebi do Raimundo, era preciso encobrir o medo, cabia-me a mim agora fingir coragem. Mas fingir coragem, é na guerra, a única coragem possível.
Os helis vieram e levaram os feridos, a coluna organizou-se e continuou a sua missão. A tensão, o medo e um ódio indefinido tomou conta de todos como era costume.
E longe dali, os que verdadeiramente mereciam ser objecto do nosso ódio, aqueles que não tinham coragem de tomar decisões com medo de mudar o rumo da história, por não estarem à altura dos cargos que ocupavam, continuaram ainda por muito tempo a manter tudo na mesma, até que um dia o nosso ódio não coube mais em nós, e apeámo-los do poleiro. As mesmas mãos e as mesmas armas, e a mesma generosidade. Quando um povo é capaz de lutar e descobre que não são justas as causas que lhe deram, inventa uma.
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