9.5.06

A Bruxuleante Chama da Vida


Os sons vêm de longe, como do fim de um túnel e a consciência acorda lentamente como se eu estivesse ancorado às profundezas do inconsciente e apenas com um fio ténue da vontade a ligar-me à vida, insuficiente para acordar. Nesta zona cinzenta onde não temos controlo do corpo mas já temos consciência de nós, é que por falta de melhor explicação se inventou a alma. A minha alma ressuscitou dentro de um corpo que permaneceu ainda mais algum tempo morto.
[...]
E o sorriso da minha mãe – a única pessoa no mundo que pronuncia todas as sílabas do meu nome. Apenas uma leve entoação na voz me faz saber se está satisfeita ou zangada comigo. Para cada estado de espírito tem uma entoação diferente que eu aprendi a conhecer com o tempo, basta-lhe dizer o meu nome e eu sei que antes de mim ela já adivinhou o que me preocupa. Será que lá longe teve um sobressalto, como um anúncio telepático da minha morte?