27.1.07

Variações de uma Harmónica no Cacimbo


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Há aqui uma solidão líquida como em certas estações de caminho de ferro em noites de Inverno e eu sinto-me um passageiro solitário à espera de um comboio de que não sei o horário.
A harmónica flutua no cacimbo como um desgosto ou um remorso, em ondas imprecisas como se fosse um improviso casual de alguém que tem o pensamento noutro lado, bem longe daqui. Pouco mais do que uma respiração sonora.
O furriel enfermeiro sai agora a caminho da batota nocturna com a sua permanente mordacidade. "Pensei que os vampiros precisavam de lua cheia" e eu com um sorriso complacente "estou a apanhar um banho de cacimbo antes de ir dormir".
O aerograma no bolso. Sinto-o na mão, fala-me de coisas que entretanto se tornaram estranhas. Parece impossível que para o meu amigo Zé os problemas estejam relacionados com futebol e mulheres; copos e festas. Depois no fim recomenda-me cuidado, como se eu estivesse em risco de apanhar um resfriado.
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