16.11.07

O Preço do Pão

De António Silvestre, Ex Alferes Miliciano e comandante da CART 3503


Foto de Manuel Bastos

Olhei para o relógio, eram 10 horas da manhã do dia 31 de Dezembro de 1973 e ali íamos nós a caminho das Bananeiras, uma dúzia de viaturas e cerca de sessenta homens, privilegiados, que tínhamos tido o bónus de ir passar a passagem do ano às Bananeiras, o pretexto era arranjar a ponte para que a coluna, que no princípio do ano viria de Porto Amélia, conseguisse chegar a Mueda .
Isso era o pretexto, pois a finalidade principal era afastar de Mueda a maioria dos homens da 3503, companhia que em Janeiro faria 24 meses de comissão, e em que a insatisfação e até mesmo a revolta já grassava tanto entre os graduados como entre os soldados.
Assim, a caminho das Bananeiras, zona a 15Kms de Mueda, famosa pelas emboscadas aí já acontecidas e pelas minas normalmente aí colocadas, seguiam cerca de 40 homens da 3503 mais 20 e tal homens da engenharia com algumas máquinas. Os atiradores tinham por missão montar a segurança e fazer a protecção aos homens da engenharia enquanto durassem os trabalhos do arranjo da picada e da reconstrução da ponte. Comandavam esses homens, o capitão Almeida e o alferes Silvestre, ambos da 3503, que por diversas vezes tinham levantado a voz em defesa dos homens da companhia e portanto não era conveniente estarem em Mueda no dia 1, onde estava previsto haver um almoço de Ano Novo com algumas individualidades vindas de Nampula, de Lourenço Marques e talvez até algum ministro da Metrópole, os quais faziam o sacrifício de nesse dia se deslocarem às zonas de guerra para, diziam eles, levantar o moral das tropas, algumas das quais já há quase 24 meses ali se encontravam.
Para evitar que Suas Excelências apanhassem algum susto enquanto estivessem em Mueda, a maioria das tropas operacionais eram colocadas no mato, quer em patrulhamentos afastados quer alguns próximos do arame farpado, de modo que os combatentes da Frelimo se mantivessem o mais longe possível e sem possibilidades de efectuar qualquer ataque.
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© António Silvestre

8.11.07

A Irreverência do Meu Pé Esquerdo

Ler o texto completo na pág. 12 do jornal Elo da ADFA ou aqui.



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Para poder rastejar à vontade sobre a relva eu deixara a prótese e a canadiana equilibradas uma na outra, talvez inspirado no método que usávamos na tropa para pôr as armas de cano para cima num feixe em pirâmide a que chamávamos pitorescamente "ensarilhar armas". Não sei qual das duas coisas mais interessava aos alemães que já constituíam um público considerável nas janelas do hospital, cracanholos para os portugueses; se o ensarilhar armas da minha prótese com a canadiana se a figura altamente suspeita, deitada sobre a relva, de pijama e de máquina fotográfica em punho, apontada para coisa nenhuma, à espera que os coelhos saíssem da toca.
Enquanto a minha teimosia em não pôr o pé para baixo aumentava a indignação da menina dos olhos negros ali à minha frente; a minha teimosia em fotografar os coelhos aumentava o assombro dos alemães, na minha memória.

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