9.3.09

O Voo da Calhandra

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O Tempo não é apenas o que tudo domina, o Tempo é o verdadeiro protagonista de todas as histórias. Mesmo uma fotografia tem tempo, não o que levamos a olhá-la, mas o que a separa do nosso olhar. Num momento algures no tempo, uma árvore foi observada, ou um rosto, ou um sorriso, ou uma cotovia levantando voo sobre um vinhedo. O olhar de um pintor prende esse momento numa tela, o olhar de um fotógrafo congela essa efemeridade num instantâneo, na vã ilusão de lhe conferirem perenidade. Noutro momento o nosso olhar cai sobre essa imagem, e cria-se uma nova realidade, mas é no intervalo entre os dois olhares que a história acontece. É esse intervalo que me fascina: a fermentação do mosto em vinho, a sublimação da paixão em amor, a transcrição do evento em História. Os factos têm apenas um interesse meramente nutritivo porque são exteriores à mente humana; o Tempo, e dentro do Tempo a imaginação, são a realidade possível, porque nos dão a ilusão de vivermos a vida. Na verdade, são a vida dentro de nós.

Não sei já onde soa o violino, se na vastidão dos vinhedos se dentro de mim, onde há-de ficar para sempre, até que, caldeado pelo tempo, me seja devolvido como uma memória, despoletada não sei por que efémera realidade.

O Vale d'Aveia descendo até Vale de Cide numa vertigem de voo planado. O Vale d'Aveia subindo até à forma erógena do Buçaco. A tarde de Outono cheia de preguiça. O sol oblíquo a desenhar longas sombras sobre o vale e a pintar tudo de cobre e ouro. A alegria da ave. A melancolia do violino. Uma e outra, dentro de mim para sempre. Uma e outra como se as tivesse testemunhado ontem. O virtuosismo do Sr. Manuel da Leonarda ensinando uma cotovia a voar. Uma cotovia levantando voo para dar título à música. Há sem dúvida mundos maiores que a mera realidade.

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1 comentário:

Jottta Leitte disse...

Uma perola!!!
Mais um belo texto!
Perfect!

Um abraço

Jose D´Abranches Leitao