26.2.07

Desaparecido em Combate

Um dia há-de aparecer a boiar no rio Douro. Antes disso há-de ser feliz durante curtos espaços de tempo, agarrando-se à vida sempre que puder, como um alpinista que sobe dois metros e escorrega um.
Tem nome, tem família, mas agora é apenas uma farda suja que caminha à minha frente. Mal dá para ver que leva alguém lá dentro.
Um dia chamar-lhe-ão ex-combatente, deficiente militar, cacimbado, porque a história dele caminhará sempre alguns passos à sua frente, como agora faz ele em relação a mim.
[...]
Os tiros de todos os lados e os projécteis a estalarem no ar por cima da sua cabeça. Aquele som de chicote das balas a passarem a barreira do som. A fila da frente tomba e ele mergulha no capim. Rasteja, gatinha, corre, foge mata adentro. Sem saber se dos tiros, se do sorriso pegajoso da ordenança, se dos olhos mortiços do major, se do ar demasiado atencioso da mulher que fica em Mueda, enquanto ele tem que ir para o mato.
[...]

Ler o texto completo aqui.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo:
Sou filho de um companheiro de armas que serviu consigo, mas noutra companhia (3502),e que também só é feliz por escassos momentos.
Fiquei extremamente contente ao ver que alguém finalmente mostra parte (uma ínfima parte) do que passaram em terras e por motivos ingratos.
Por favor peço que me contacte para o mail nfm@portugalmail.pt, de modo a partilhar experiências e contactos.

um bem-haja
Nuno Monteiro

Anónimo disse...

Manuel Bastos,

Muito bem contado. Gosto de vir ao cacimbo. Conheço esses cheiros, por lá andei também, na Guiné entre 65 e 67. Continua, Manuel. Um abraço,
vb

Anónimo disse...

"CACIMBO" é um dos melhores blog's sobre a realidade africana, na sua componente de "Guerra Colonial". Tudo parece real e para quem como eu passou pelos locais assinalados, tais como, Mueda, Miteda, Nangololo, Mocimboa e até proximidades de Omar, pois saí do Norte de Moçambique no último dia da Op. Nó Górdio, mas participei antes na Op. Beira. Logo conheço o cacimbo da picada. Pertenci ao Esq. Cav. 2 de Mueda. Em 2004 estive em Mueda e fico na expectativa do que vai contar sobre "Nunca mais voltarei a Mueda", eu agora também penso que não vou voltar a Mueda. A Moçambique prometo que voltarei, pois acabei de multiplicar as saudades por aquele país, onde na década de 60/70 passei variados momentos entre o bom e o muito mau.
João Azevedo

Anónimo disse...

Caro Manuel Bastos, solicito-lhe autorização para publicar no Jornal de que sou "Director"/responsável um ou dois textos, muito bem elaborados e que seriam um "rebuçado" aos leitores. O Jornal é "O Combatente da Estrela" com publicação trimestral. Deixo-lhe o meu email para a sua autorização ou contacto: jdacruza@netvisão.pt o jornal aparece em vários Blog's e no "Guerra Colonial". Teria muito prazer, pois como já deixei noutro comentário está tudo muito bem descrito e seria fantástico mostrar esta sua veia narrativa a muitos outros ex-Combatentes.
João Azevedo