Parabéns para mim… Nesta data querida…
Em Novembro o Cacimbo faz 6 anos (vide primeiro post >aqui<). Merece parabéns e já está em idade de frequentar a primária para aprender a escrever.
Em Novembro o seu autor vai ser "presenteado" pela CGA com o Suplemento Especial de Pensão atribuído aos antigos combatentes, que por motivos pessoais se recusa a usufruir e que decidiu entregar a uma ONG até descobrir uma forma de o fazer chegar seguramente a quem gostaria que dele usufruísse: as crianças de Mueda onde combateu.
Exorto daqui todos os meus irmãos de armas a fazerem o mesmo, nem que para isso tenhamos que criar uma associação.
A todos os visitantes deste blog, continuo a oferecer palavras apenas.
Mas é isto que sou aqui: palavras apenas; as imagens e sons apanham apenas boleia com as palavras. Mas não vos dou nada meu, que as palavras não têm dono. Eu sou apenas um apanhador de palavras. Apanho-as por aí e depois junto-as, tentando desenhar com elas o imponderável corpo dos sentimentos.
Mas não se iludam, nada do que digo é verdade. A Verdade é uma palavra prostituída; juntamente com o Amor, vendem-se por aí a quem prometer mais. O que digo é apenas o que ficou dentro de mim depois de excluídos todos os dados concretos que aproximariam demasiado as minhas palavras dos factos ocorridos e das pessoas envolvidas. É a recriação possível, depois de eu ter esquecido a verdade. São palavras. Palavras mentirosas, que inventam sentimentos e paixões, dores e alegrias, situações e atmosferas; mas, porque não são dirigidas à razão do leitor mas à sua emoção, são um convite à sua cumplicidade para o honesto embuste da ficção literária.
Sei porém, que não fui bem sucedido; às vezes a verdade espreita por entre a invenção que são as minhas palavras. Traz com ela, nomes, lugares e factos que e eu não tenho coragem de expulsar. É a prova que ainda não superei completamente as experiências que vivi, e não criei a distanciação que o cronista deve manter da ocorrência histórica, para ser isento. Mas, isento porquê, se assumidamente falo de mim? Assim, inventando, reinventando, cedendo à crueza dos factos, mais não faço do que a catarse de um paciente na poltrona de um psicoterapeuta, a que acrescento a ingénua ilusão de que isso pode divertir alguém.
Alguém há-de ter divertido, a julgar pelo número de visitantes que diariamente procuram este blog, muitas vezes ultrapassando a meia centena, mesmo excluindo os chamados blammers que buscam apenas o clique de retorno que nos leve a visitar os seus próprios espaços na Internet. Tendo em conta que aqui encontram apenas palavras escritas, é verdadeiramente surpreendente e encorajador, tanto mais que o texto escrito e o monitor de um PC ainda não são um casamento feliz.
Convido-vos a um pequeno passeio por este blog para visitarem algumas das emoções feitas de palavras:
- Stress de Guerra - A Visita
-------------------- Saudades de Azul
- Homenagem às Enf. Paras - A Enfermeira que Vinha do Céu
- O prazer da palavra escrita - A Carta
- Tentar a poesia - 100 Versos do Mato
- Memórias de Aguim - O Voo da Calhandra
------------------------ O Último Verão da Minha Inocência
- O Mov. Nac. Feminino - Os Sapatos do Major
- O 25 de Abril - Tão Tarde Pela Madrugada
e ainda...
- Compre o livro - Cacimbados
- Assista ao espectáculo - A Dor Fantasma
11 comentários:
Manuel Bastos
Parabéns pelo teu, melhor, nosso Cacimbo, já que a utilização que dele fazes, a todos, de um modo geral, diz respeito; estou, claro, a referir-me à 3503.Estou certo que todos nós sentimos orgulho pelo êxito que tem sido esta caminhada, ao longo destes 6 anos, para que a experiência que vivemos em Mueda não tenha sido, mais que esquecida, dizia, não tenha sido em vão para bem de toda a humanidade.Sim, digo humanidade, já que bastaria o sofrimento e, mesmo, a morte de um combatente, estivesse ele de que lado fosse, para merecer o respeito de qualquer homem.
Aproveito para aderir à tua indignação pela "esmola" com que pretendem aliviar-se aqueles que julgam mandar ...
António P. Almeida, último capitão CART3503.
Meu caro Manuel Bastos,
quem está de parabéns são os leitores por o meu amigo dar existência ao ‘Cacimbo’, local de aprendizagem para quem não andou por aquelas guerras e de, talvez mais do que de reencontro dos que por lá passaram, onde quer que tenham estado, procura de uma catarse em páginas que muito nos dizem e que gostaríamos de também conseguir escrever em relação às nossas próprias emoções e experiências.
Um grande abraço, esperando continuar a ‘Cacimbar’ por muitos e bons, do
José Sande
Meu caro Manel:
1. Fui confirmar. É verdade, o Cacimbo é mais antigo que o Luís Graça & Camaradas da Guiné (I Série), (ex-Blogue-Fora-Nada). Foi criado em 2/11/2003. Acaba, portanto, de fazer 6 anos, o que na blogosfera é já uma provecta idade.
Estás de parabéns. E eu já lá deixou, no nosso blogue (que também é teu) um convite a todos os camaradas da Guiné para virem cá ler algumas das melhoras páginas que se têm escrito sobre o quotidiano da guerra colonial.
És um homem com talento e sensibilidade, além de um grande artesão das palavras.
2. Por mera curiosidade, é de referir que o ex-Blogue-Fora-Nada, mais tarde rebaptizado Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (I Série) até nasceu antes... O primeiro poste publicado tem a data de 8 de Outubro de 2003. A II (e actual) Série irá surgir em 1 de Junho de 2006, numa nova plataforma.
Nessa altura eu tinha acabado de escrever a minha tese de doutoramento e encontrei, na 'blogaria', uma maneira, fácil e barata, de desopilar, depois de um longo retiro social, intelectual e espiritual...
O seu primeiro escrito foi, imagina!, sobre a importância de ter ou não ter e-mail...
Foi também um das primeiras pessoas, no meio académico, a ter, em 1999, uma extensa e completa página pessoal (Saúde e Trabalho), disponibilizando, em 'open access' (acesso livre, 'avant la lettre') centenas dos seus textos e documentos.
Em rigor, o primeiro poste sobre a Guiné data de 23 de Abril de 2004 pelo que o nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné, I e II Séries) já tem, de facto, 5 anos e meio... Com toda a justiça, o Cacimbo é o mais antigo dos blogues que eu conheço sobre a experiência da guerra colonial.
Força, para continuares! Um Alfa Bravo. Luís Graça
________________
Vd. o poste de hoje, 3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5200: Blogues da Nossa Blogosfera (22): O Cacimbo faz 6 anos! Parabéns ao veterano Manuel Correia Bastos
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/11/guine-6374-p5200-blogues-da-nossa.html
Meu caro Manuel:
Obrigado pelos teus comentários ao nosso (meu, teu, deles, nosso, vosso, deles...).
Mas não vale a pena ficarmos aqui a fazer troca de galhardetes...
Verdade, factual, indesmentível: Tu chegaste primeiro à blogosfera...Leia-se o poste de 2/11/2003:
"2.11.03 > A Prenda de Natal
"O soldado avança, o agoiro da mina escaldando-lhe os pés, ora abraçando a arma ora atravessando-a, como uma canga, em cima do cachaço e descansando os braços sobre ela, parecendo um crucifixo ambulante. Que pode um soldado assim crucificado na própria arma desejar para o Natal?" (...)
Infelizmente já não consigo ter acesso ao resto do texto. (O que se passa, camarada ? Quebra do link ?)
Quero que sintas os nossos sinceros parabéns como um reconhecimento dos camaradas da Guiné pelo pioneirismo do teu blogue, e pela tua persistência e durabilidade de pilha Duracell, passe a publicidade. De facto, quantos de nós não têm ficado pelo caminho?!...
É também um pequeno mas entusástico incentivo para continuares a escrever até que o dedo te doa...
Saudações bloguísticas.
Luís Graça
Ola Manuel
Cheguei aqui através do blogue Especialistas da BA12 (outro cacimbo que também respirei).
Visitando o que, recomendavas,
abri "A visita", emitindo de imediato um comentário/reacção, que não resisto a repôr neste corpo central do teu blogue (que só depois explorei).
Aqui (re)vai:
A enorme sensibilidade estética, a profundidade de pensamento e humanidade, que emanam desta tua "visita", tocaram-me muito, nomeadmente pela secante que ela traça à dramáticos vivencia colectiva, imposta à nossa geração.
impulsionado a transmiti-lo através deste comentário, fiquei enredado nas palavras, que por muito que rebusque me surgem pobres e inexpressivas, comparadas com a profunda "simplicidade" da prosa que pretendem comentar.
Para sair desta à boa portuguesa, resumo assim:
Gostei muito, mesmo muito!
Como habito em Sintra, vou:
- Estar atento ao espectáculo que se anuncia para Janeiro com base nos teus textos
- Subscrever o envio dos textos do teu blogue para a minha caixa
- E, já já, adquirir o teu (nosso) "Cacimbados" de que só agora percebi a existencia.
Continua, para nossa delicia, a juntar palavras.
Abraço
Jorge Narciso
Amigo e Comandante Almeida,
O esquecimento, e não o sono, é a verdadeira antecâmara da morte. Que as nossas palavras nos mantenham sobreviventes e a nossa amizade a enriqueça. Tu não és só bem-vindo, tu és da casa.
Amigo Sande,
Também és da casa. Aguardo os teus versos, que terei gosto em publicar.
Companheiro Luís,
respondi no teu blog ao teu comentário. Os visitantes que desejem lêr viagem para:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/11/guine-6374-p5200-blogues-da-nossa.html
Um abraço
Amigo Jorge,
Bem-vindo a este espaço. Dedico-te as palavras de Lobo Antunes: "É mais difícil encontrar um bom leitor do que um bom escritor".
Ter um bom leitor que gosta das nossas palavras é tudo o que deseja quem escreve.
Obrigado
Meu caro amigo Manuel Bastos!
Os seus textos não são prosa...são poesia fantástica!
Um grupo de amigos a quem divulguei a sua obra literária "Cacimbados -A Vida por um fio" fez-me a seguinte pergunta:
- Para quando o próximo livro do teu amigo Manuel Bastos ?
Estarei atento e não perderei "pitada" ao abrir o seu Blog diariamente!
Um abraço
José D´Abranches Leitão
Amigo José
É sempre uma satisfação receber notícias suas.
Conto de facto com a sua visita ao meu blog e espero merecer a sua dedicação, com as minhas palavras.
Quanto a um novo livro, ele vai crescendo livremente, umas vezes lentamente outras torrencialmente, mas nunca com ansiedade, a escrita é para mim uma coisa natural: será como tiver que ser, quando tiver que ser. Às vezes penso que sou apenas o porta-voz, deixo que as palavras passem por mim, quando chegar a altura constatarei também que a história acabou, e nessa altura proporei à minha editora que a publique.
Só lhe digo que o maior prazer de todos é dar conta que até fiz verdadeiros amigos só porque as palavras me escolheram a mim para serem escritas, como aliás, o José D’Abranches é a prova.
Um abraço de amizade
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