27.6.05

O Tocador de Kanhembe

"Foi mai di quinhenta" disse-me o único maconde que conheci, e pousou o kanhembe sobre uma pequena pilha de tijolos que parecia servir de banco. Pousou-o com cuidado e eu percebi que se tratava de um instrumento musical. "Kanhembe" disse ele, respondendo ao meu ar de intrigado.
Mal eu entrara ele deu resposta antecipadamente a todas as minhas questões, que lhe haveriam de parecer inocentes, com uma única frase, como se dizer mais do que isso fosse impúdico. "Foi mai di quinhenta" – e nada mais de sensato havia para dizer.


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"... Depois foi diminuindo de estatura, o chorrilho de palavras abrandando, até que fez um curto silêncio para de seguida proferir pausadamente, com uma pronúncia quase irrepreensível, como quem diz algo que decorou só para ser dito em momentos solenes: – Dezasseis de Junho de mil novecentos e sessenta.


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Agora, ali estou eu, perante o pôr-do-sol, o último para mim na África profunda, não por ter desertado, em virtude de um maconde velho, que tocava kanhembe, me ter testemunhado o massacre que deu origem àquela guerra, mas porque a mina que me foi destinada vai cumprir, ela também o seu dever. O ignóbil dever de todas as guerras: fazer tanto mal aos outros quanto possível.

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