15.4.05

Prenúncio de Abril

Abril de 72, picada de Omar, Moçambique.

... a fileira de viaturas quase em ruínas parece antes uma cicatriz cheia de crostas, nesta pele verde enferrujada do capinzal. Dá a ideia de que o nosso trabalho tem sido apenas alinhar sucata pela picada.

Acabo de comer como se tivesse gostado da refeição, bebo o resto morno da minha 2M e atiro a lata para o capim, onde há muito se encontra a lata de vomitado do alferes Barreiros que não comeu nada.

... depois desce e vem pousar-me na mão. Durante um longo momento a minha G3 transfigura-se ganhando a luz dos objectos sagrados.
− Que sabe uma borboleta de revoluções?
Um dia, armas como estas hão-de sair à rua, em mãos como estas, sujas de guerra...

... mas nesse dia serão cravos. Nesse Abril serão cravos.

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