Só depois soube que já não vinhas. Se tivesses vindo, ter-nos-íamos sentado certamente àquela mesa para nos olharmos e dizermos coisas que nada tivessem a ver com o nosso encontro nesta casa abandonada há muito, para permitir que o desejo nos surpreendesse, e surpreendendo, nos tornasse inocentes.
O desejo diminui a culpa. Esta solidão aumenta-a.
O peso das chaves desta casa no meu bolso, como o peso de um objecto roubado.
E também o peso da traição; que a traição não precisa de corpo para pesar, nem precisa de ser consumada, basta ter sido tentada. Mas se tivesses vindo, a traição teria pelo menos a compensação do prazer, e não seria um espaço vazio como aquele pires, como aquela cadeira, como esta casa toda, abandonada por se ter tornado insuportável a solidão. Mas já não vens, e o agouro da traição aumenta, porque a culpa sem a tua cumplicidade me atormenta só a mim.
Se ao menos nos amassemos, se ao menos tivéssemos a desculpa do amor, mas o nosso desejo não tem desculpa.
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