27.3.07

Nunca Voltarei a Mueda



Nunca
meu amor
odiei em Mueda
deram-me
demasiado iguais
amigos e inimigos
Sentados à noite
em redor do fogo
bebendo do mesmo vinho
que canto não nos uniria
onde o ladrar das armas
nos separou

Nunca
meu amor
amei em Mueda
estive sempre só
da minha alma para dentro
Ainda se ao menos
tivesse visto
alguém nascer em Mueda
mas o mais disponível que esteve
a graça divina
foi quando às vezes
ninguém morria


Queria
meu amor
levar-te a Mueda
para ouvirmos
o silêncio das armas
ao pôr-do-sol
e de manhã
à hora que a ignição da vida
acorda o Vale de Miteda
queria amar-te
meu amor

Queria amar-te
na humidade uterina da selva
que não estando ainda
deus disponível
pudéssemos ao menos
iniciar uma vida
onde tantas acabaram

Mas nunca
meu amor
nunca te amarei em Mueda
porque o amor
não germina
onde um homem
nunca viveu
e no entanto
matou


Fotos do ex-Capitão Miliciano António Pereira de Almeida
Último comandante da CART 3503